sábado, 27 de junho de 2009

Dia do Fuzileiro


0650 - Acordo com a Alvorada a tocar no meu telemóvel. Hora de levantar.
27 de Junho, sábado. Parece que o sol vai estar à vista. Se queria chegar à Escola a tempo tinha que me levantar e despachar. Hoje é dia do Fuzileiro.

As 30 flexões da praxe para espantar o sono, banho, vestir, pequeno-almoço e siga direito a Coina – Barreiro.

0755 – Depois de umas peripécias e de umas azelhices no trajecto para lá chegar, estacionei em frente à Escola de Fuzileiros, em Vale do Zebro. Longe de ser o primeiro. O parque de estacionamento já estava composto. Saí do carro, atravessei a estrada numa corrida rápida, pois quem está familiarizado com estas instalações militares, sabe que a estrada “da mata da machada”, é propícia a velocidades altas por parte de carros, motas e pesados.

Antes das 0800 estava junto à porta de armas.

Oiço o clarim a tocar. A Bandeira sobe!

Os Fuzileiros que se encontravam na parte de dentro do portão ainda fechado, ficam firmes, imóveis, em sentido. Os ex-Fuzileiros (se é que isto existe, já que: Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre) que estavam no exterior dos muros, tomam comportamento igual.

Este foi um daqueles momentos em que se sente um arrepio inexplicável e uma emoção que não se consegue facilmente justificar.

Os portões só abriam aos civis as 0830. Aqui, enquanto admirava a Parada, plena de carros de combate, ouvia as histórias dos antigos. Estavam longe, mas deu para ouvir algumas palavras soltas: Moçambique… turras… granadas… mato… emboscada… fardamento… Guiné. Não havia dúvidas sobre a temática discutida: Guerra Colonial.

Apesar dos “marinheiros do fuzil” existirem na Armada Portuguesa há centenas de anos, a Escola de Fuzileiros foi criada em 1961 para preparar militares para missões operacionais nas Colónias Ultramarinas.

Senti-me deslocado. Sentia-se no ar um companheirismo fraterno. Eu não pertencia àquele grupo. Mudei-me do lado Marinha do portão, para o lado Fuzileiros. Já lá estava havia alguns minutos um (ex) Fuzileiro com uma T-shirt verde dos Fuzos, boina na cabeça, braços cruzados e olhos fixos no Edifício Comando. “Escola de Fuzileiros” lia-se bem desde a estrada. “Porra, esta merda ainda mexe comigo” – disse ele ao sentir a minha presença, sem desviar os olhos do Edifício Comando.

0830 A Porta de Armas, abre. Quem vai a pé pode entrar, a quem vem de carro é pedido convite. A Escola está aberta a todos. Entro. Não é a primeira vez que piso este terreno e gostava que não fosse a última. A Escola de Fuzileiros, pela sua localização, carisma, imagem e mais qualquer coisa para a qual não consigo encontrar o substantivo ou adjectivo adequado, encerra em si um espírito que mexe com uma pessoa.

Daqui fui a pé ate à sala Museu, pelo caminho vi chegar um autocarro de turismo. No pára-brisas trazia um cartaz: “Associação de Fuzileiros – Porto”. Um grupo animado. Ao saírem do autocarro, esticam as pernas e passam os olhos pelas instalações. Olham e recordam. Apruma-se a boina azul e prepara-se a máquina fotográfica, que para eles, aqui e hoje substitui o gatilho, outrora muitas vezes premido, para recordar este primeiro encontro de Fuzileiros na velha Escola. Lá iam eles. Alguns de máquina fotográfica na mão, outros de garrafa Sagres.

Passeios de LARC-5 ou Bote estavam ao dispor dos visitantes. Rapidamente se gerou uma fila de espera.

Havia também uma tenda de campanha onde se podia fazer tiro air-soft a alvos fixos, numa dinâmica de tiro prático e uma parede de escalada, montada em frente à Sala Museu.

Fardados e civis trocam cumprimentos e recordam tempos juntos. Procuram saber uns dos outros e dos camaradas que ainda não chegaram, mas que certamente vêm a caminho.

Penso ter sido um bom Dia do Fuzileiro, onde os antigos Fuzileiros aproveitaram mais que os actuais em serviço. Mas a vida é mesmo assim. Uns têm que trabalhar para que outros possam desfrutar. O respeito pelos mais velhos e o reconhecimento dos seus méritos, dá aos mais novos a aspiração de poder vir a ser como outros já foram e que daqui a uns anos estejam estes a receber homenagem e a trocar memórias com camaradas do seu ano de Escola.

Foi evidente que existiu um enorme esforço para que tudo estivesse organizado e pronto a tempo. Até para a organização de um evento desta natureza e dimensão a celebre frase dos Fuzos se aplica: “Se fosse fácil estariam cá outros.”

Etiquetas: , ,

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial